Artigos

 

Os Intocáveis

Publicado em: 12/07/2015 por CBN-SP

Parece filme policial que relembra Eliot Ness combatendo os “gângsteres” durante o período da lei seca, enfrentando o famigerado mafioso Al Capone.

Mas não se trata de filme policial ou de uma ficção, mas de realidade cruel. Os intocáveis “são mais de 1,3 milhão de indianos catadores de excrementos responsáveis por limpar as fezes de 15 milhões de pessoas”.

A reportagem sobre o assunto é do jornal Folha de São Paulo, de 18 de maio do corrente ano.

Aos 13 anos, Sudhira, que hoje está com 60 anos, casou-se e recebeu de sua sogra uma herança: uma cesta de bambu, uma pá e uma vassoura para limpar excrementos de 60 casas.

“Acorda às 7 h, primeira casa, vai até o fundo do terreno onde fica o banheiro – um buraco raso no chão, cercado de uma parede baixa de tijolos”.

“Retira os excrementos, sem luvas, com uma pá, em meio a uma nuvem de moscas e um cheiro horrível”.

“Recolhe esse bolo de excrementos e põe na cesta que leva sobre a cabeça. Às vezes escorre”.

“Há 1,3 milhões de pessoas na Índia que são catadores de excrementos. Elas pertencem a uma casta de INTOCÁVEIS.”

“O maior empregador de catadores de excrementos da Índia é o sistema ferroviário”.

“São 178 mil vagões de trens, cada um com quatro banheiros. Não existe nenhum tratamento. A pessoa faz suas necessidades, e os excrementos caem sobre os trilhos. O catador de excrementos limpa”.

Jesus Cristo disse que nós somos a luz do mundo, o sal da terra. É importante observar que Jesus não disse que os discípulos seriam a luz de Israel ou da Palestina, mas luz e sal do mundo.

Os cristãos são responsáveis por esta situação deplorável que ocorre na Índia, na medida em que não temos sido efetivamente luz e sal.

A Igreja tem falhado na sua missão de colocar o mundo de cabeça para baixo, como fez a primeira geração de cristãos. Podemos argumentar que o que ocorre na Índia não tem nada conosco, mas como sal e luz do mundo, tem.

O que há de errado conosco?

Será que pensamos ser cristãos e não somos? Será que pensamos ser convertidos e somos apenas convencidos? Será que temos experimentado um verdadeiro arrependimento?

Prefiro abordar a questão do arrependimento. Pedro chorou amargamente quando negou Jesus. Isaías desesperou-se. Paulo disse “miserável homem que eu sou”.

O encontro do homem com Deus resulta em um estado de arrependimento.

Note não um momento de arrependimento, ou um dia de arrependimento, mas um estado de arrependimento. Não deveríamos perguntar a partir de que dia aceitamos a Cristo como Salvador e Senhor, mas a partir de que dia começamos a nos arrepender.

Cristo viveu um estado de humilhação, ele não tinha do que se arrepender, nasceu sem pecado e não cometeu delito algum durante toda sua vida terrena.

Entretanto, o estado de humilhação de Cristo vem nos ensinar que nosso estado de arrependimento deve ser um estado de humilhação.

A vida de piedade é vida de confissão, vida aos pés da cruz, consciência de que somos indignos, necessitados e dependentes de Deus.

Por mais incrível que pareça, devemos ver uma semelhança entre a casta dos intocáveis na Índia e nossa situação. Afinal, não é porque Cristo nos salvou que deixamos de ser indignos, necessitados e dependentes.

A consciência do que somos, piores do que a casta dos intocáveis, deve nos levar a uma constante humilhação, a um estado permanente de arrependimento.

Mas parece que temos muito a celebrar, principalmente nestes dias de euforia e ufanismo, mas pouco a chorar aos pés de Deus.

Rimos com o mundo, aplaudimos, nos entusiasmamos, vibramos, comemoramos. Parece que queremos viver em um estado de festa permanente, e não de humilhação permanente.

Podemos até chorar nos fugidios momentos que pensamos estar a sós com Deus, como se Ele devesse merecer a nossa pequena atenção por escassos momentos; nos demais é folgar, rir, celebrar.

O homem arrependido está em constante humilhação, na oração, no choro da alma soluçante por santidade.

Choremos pela Índia, choremos por nós mesmos, não chegou ainda hora de sermos vestidos com vestes de alegria, essa hora virá para nós se aprendermos a chorar porque temos fome e sede de justiça. Fome e sede para que a justiça venha, e um mundo novo surja das cinzas do apocalipse.

O arrependimento é uma mudança radical de mentalidade e modo de ser.

O arrependimento nos traz uma nova forma de ver as coisas, a vida e o mundo.

Não vou me aprofundar na questão, mas a casta dos intocáveis na Índia tem muito a nos ensinar sobre a posição dos cristãos no mundo, como sal da terra e luz do mundo.

 

Edson Quinezi

 

 

 

 

logo
home   |   sobre nós   |   artigos   |   galeria   |   download   |   contato
Rua Lavradio, 424 - 01154-020 - Barra Funda - São Paulo - SP - cbnsp@cbnsp.com.br - 11 3662-6000 / 11 3662-0497 / 11 96382-6717
Horário de atendimento ao público: de terça-feira à sexta-feira, das 9h00 às 17h00.
Copyright ©2024 Convenção Batista Nacional do Estado de São Paulo. Todos os direitos reservados. Desenvolvimento: MFC Comunicação.
Topo