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Labor Pastoral

Publicado em: 23/06/2015 por CBN-SP

Escrevendo a Timóteo, Paulo compara o pastor a um lavrador que trabalha do raiar do sol até o anoitecer. No original, o termo transmite a ideia de trabalhar até a exaustão.

Infelizmente, o ser pastor não está sendo compreendido pela maioria da safra nova de pastores e também pela própria igreja que acaba idolatrando seus líderes.

Temos trabalhado na Igreja Batista Betel com equipe de pastores. Procuramos ensinar que um depende do outro e que nem todos têm o mesmo dom, daí a necessidade de sermos amigos, companheiros e atuarmos juntos em benefício do reino de Deus.

Com isto procuramos evitar a idolatria do pastor, a figura do pastor como o único protagonista do trabalho de Deus dentro da Igreja.

Ensinamos a importância dos líderes existentes dentro da igreja mostrando que muitas vezes eles são mais relevantes que os próprios pastores. Sempre visando desmistificar o pastor com o “primus inter pares”. A igreja precisa entender que a Bíblia ensina que todos os cristãos são sacerdotes, embora com dons diferentes.

Mas vamos ao nosso título: “Labor Pastoral”.

O primeiro trabalho do labor pastoral é o evangelismo. Sem paixão pelas almas, não há crescimento, nem da igreja, nem do próprio pastor.

Nunca peguei uma igreja pronta. Sempre comecei com poucas pessoas. Em Guararapes, com 13 pessoas. Em Bauru, com 15.

Em Guararapes, saía com meu pai e alguns irmãos corajosos pelos bairros, com uma pequena vitrola e um alto falante de esquina em esquina.

Em Bauru, incentivava pequenas equipes a saírem para os bairros. No Gasparine, a irmã Rosa e o irmão Isaías cediam suas casas. O irmão Osmar também.

Assim foram nascendo as demais unidades da Igreja.

Sem evangelismo a Igreja morre, os crentes ficam mais preocupados em fofocar do que ganhar almas. Agora o “facebook” está aí para piorar a situação.

Vinicius, você aí em Santa Catarina, se lembra das nossas saídas pelo Mary Dota? De quando entravamos num ônibus indo de um bairro a outro entregando folhetos, ou passávamos pelas lojas deixando exemplar da Bíblia e conversando com o povo?

Foi pouco tempo, mas muito lindo.

Já ouvi uma história de um jovem pastor que quando perguntado sobre como ele evangelizava, respondeu: “Evangelizar é para as ovelhas, não é trabalho de pastor”.

Nós ensinamos nossos pastores, os incentivamos. Já fizemos vários treinamentos sobre as quatro leis espirituais.

Tá lembrado pastor Aparecido, você que está em Catanduva? Pelo menos você se salvou, porque sei que é um ardoroso evangelista.

O pastor deve ser o primeiro a sair em campo, dar o exemplo, ir para a praça. Muitas vezes converso com taxistas, vendedores ambulantes, sento junto a pessoas em praça de jardim.

Agora estou com 70 anos, vou completar 71, já perguntaram em tom jocoso quando que eu ia entregar a bengala. Espero que todos a entreguem como eu estou entregando: com várias igrejas que procurei ajudar com muito pouco, mas que deixei minha marca, em Araras (um abraço pastor Donisete), Agudos, Pirajuí, Valparaíso, Guararapes, Andradina, além de oito unidades em Bauru, e agora nosso Parque Viaduto.

É triste ser desrespeitado em minhas decisões, com comentários irônicos e insidiosos no facebook, “O Senhor seja o meu juiz”.

Nunca decido de inopino, mas demoro – às vezes dois anos –, e nunca sozinho. Sempre com os demais pastores, sempre com unanimidade. Nunca às escondidas, mas com transparência.

Os pastores da nova safra são ensinados que os frutos da videira no capítulo 15 do evangelho de João são apenas frutos de caráter.

Procuram fugir da verdade e da responsabilidade.

Alguns até ensinam que esse capítulo não é para a igreja hoje.

Mas ali está escrito “eu vos ordenei para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” Porventura este texto não é uma ressonância da grande comissão “Ide e fazei discípulos”.

Ganhe almas e as discipule. Mas é cômodo discipular somente os que já estão dentro da igreja.
O pastor tem que evangelizar, tem que ser um ganhador de almas, e a igreja também, senão serão cortados, podados pelo Senhor.

A nova safra tem dificuldades para evangelizar, porque mentalizaram que ser pastor é ser “Pastor de gabinete”. Só estuda, só ora, só lê, não sai a campo. “Saiu o semeador a semear”.

A Palavra de Deus é comparada ao martelo. Então, já dei bastante martelada. Mas é preciso destacar a oração, como labor espiritual.

O pastor de gabinete ora no gabinete, mas precisa orar com os irmãos, marcar vigílias de oração – não importa se vão apenas dois ou três –, marcar jejuns na igreja. Uma vez marquei uma vigília na Pousada. Mas com uma regra: só podia ir que fosse ficar até o fim. Alguns reclamaram, porque alegaram que precisavam sair antes. Mas só permiti ficar quem ficasse até as seis da manhã. Lembra irmã Eleni e Edvaldo, aí da Pousada? Bons tempos, não?

O pastor tem que ensinar pessoas a orarem. Ele precisa orar de maneira que ajude os outros aprenderem.

Quando alguns irmãos chegaram em nossa igreja, provenientes de outra, ficaram surpresos em ver nossos irmãos orarem. Se não me engano, esse depoimento foi seu Cássia. Louvo a Deus pela sua vida.
Ao sair de uma igreja, um pastor deve deixar atrás de si um rastro de oração, pessoas intercessoras, que sejam ousadas diante do trono de Deus, que aprendam que orar é além de falar com Deus, é ouvir Deus, que se aprende de Deus e sobre Deus de joelhos, com a boca no pó.

Momentos de lembrança… quando íamos andando pelos trilhos da rede ferroviária, com lampiões acessos, orar nas casas de irmãos que trabalhavam na rede. (Estou chorando irmã Aparecida. Que saudades do irmão Raimundo).

O labor pastoral abrange primeiro o evangelismo, que se não for praticado, a igreja morre. E também a oração intensa. Esses princípios devem ser ensinados à igreja.

O pastor deve se preocupar com a Gestão da Igreja. Há pastores que não se preocupam em saber quanto entra e quanto sai da igreja. O pastor que não sabe donde vêm os recursos, corre o risco de não ser grato a Deus e aos irmãos. O apóstolo Paulo, quando recebeu das mãos de Timoteo a oferta que veio de Filipos, assim se expressou: “Alegro-me grandemente no Senhor, por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo, sobre o qual, na verdade, estáveis atentos, mas vos faltava ocasião apropriada.”

A Gestão da igreja não se limita à parte financeira. Temos na igreja uma relação de 30 pessoas que são visitadas, semanal, quinzenal ou mensalmente, conforme o caso. Há um controle sobre essas visitas, para que o irmão não deixe de ser acompanhado.

Os ministérios da igreja são formados e acompanhados. Temos vários ministérios criados na igreja, quero destacar o de capelania hospitalar, escolar e penitenciário.

Na hospitalar temos artesanatos para os doentes. A igreja tem se destacado nesta área sendo respeitada e procurada para este trabalho.

Procuro incentivar os pastores da nova safra, quando surgem, a se informarem sobre estes trabalhos, mas pastores com mentalidade de “gabinete”, não se interessam nem em saber como funciona, nem em começar em sua unidade. Lamentável.

O gerenciamento de ministérios, que compreende criação, formação de equipes e treinamento, faz parte do labor pastoral.

Gestão pastoral é treinamento. Temos como exemplo o treinamento na área de capelania. Muitas vezes não sabemos como fazer, mas temos que ir atrás da informação. Corremos muito para chegarmos onde estamos na área de capelania hospitalar.

Ao nos informamos sobre o processo, procuramos dar andamento a ele. Irmãos foram à capital fazer vários dias de estudo e treinamento em hospitais sob acompanhamento de monitores. Leem e fazem provas de avaliação. Em breve, seremos um núcleo de formação, creio ser o primeiro no interior de São Paulo.

Na capelania escolar, onde irmãos abnegados atuam em uma escola temos visto milagres. Uma irmã nossa, depois de dez anos voltou a lecionar lá. Estranho, a escola estava muito melhor. Testemunho da diretora e professores – o trabalho de capelania feito pelos nossos abnegados irmãos.

Na capelania penitenciária, nosso jovem irmão André lidera uma equipe briosa.

E o que falar do Parque Viaduto, já em funcionamento com o nosso evangelho sem palavras?

Faço questão de que os pastores que visitam sejam treinados. Nossas visitas pastorais não são visitas sociais, de risinhos, abraçinhos. O pastor chega procura inteirar-se rapidamente do estado da família. Ora, lê a Bíblia, faz uma breve explanação, canta hinos do cantor, vê se a família precisa de alguma coisa, e sai para o campo que o jogo é de campeonato.

Nossos pastores não podem alegar ignorância, porque sempre temos reuniões pastorais e reuniões de colegiado. Além disso, estimulo nossos pastores a se conversarem e a procurarem informações com os demais colegas e com os líderes de ministérios. Insisto que procurem saber como a igreja funciona e que levem suas unidades a estarem com sintonia com a unidade da Bela Vista.

O labor do pastor deve contemplar o empreendorismo.

Compramos e construímos na Pousada, mérito para o pastor Quintanilha. Compramos no Gasparini. Nossa visão é construir sede própria no Mary Dota, Jardim Ferraz e São Carlos. Espero ver esses sonhos realizados antes de partir. No Mary Dota já temos terreno, o ano que vem pretendemos construir. Em São Carlos, há dois consórcios de sessenta mil cada, um já foi contemplado. Pretendemos comprar mais um consórcio, porque em São Carlos terreno é caro. São despesas tiradas de Bauru, não de São Carlos que não tem condições para se manter.

Bem, estejam certos que há muito que falar ainda sobre o labor pastoral. As noites de angustia sem dormir. Aceitar as críticas com serenidade, como as que estou recebendo agora, ter a sua autoridade contestada por pessoas que desconsideram nossa história, mas reconhecida até mesmo por igrejas que não são simpáticas ao avivamento. Sofrer o resto das aflições de Cristo pela sua igreja. Olhar a igreja como um todo mantendo a sua unidade mesmo à custa de perdas pessoais.

Não mencionei as lutas convencionais, mas destaco o trabalho que fiz à frente da comissão que tratou do G-12, onde no lugar de ganhar inimigos, ganhei amigos. (Amados pastores do nosso Goiás).

Lembranças bem antigas me veem a mente. Uma vez na alta noroeste voltei de uma ação evangelizadora com calombos por todo corpo. Dormi num cochão que parecia uma colônia de percevejos. Ameacei falar para alguém, pastor Elpio Lorenço, hoje em Araçatuba me repreendeu. Tive bons professores. Certa feita viajei duas horas dentro de uma fazenda (jarguá, em Guararapes) – só terra – para evangelizar uma família. Em outra fazenda Murutinga do Sul que fui pregar, irmão Lázaro disse que ninguém aceitou o convite. Colocamos o alto falante na árvore e pregamos pensando que não tinha ninguém. Uma família de onze pessoas, com vergonha de se aproximar, escondeu-se atrás dos pés de café. Depois a notícia: todos se converteram.

É hora de entregar a bengala, como estão dizendo por aí. Mas os dons que Deus me deu estão aqui, mais fortes do que nunca, e creio que mesmo não estando à frente da presidência da igreja, estarei procurando novos espaços, continuarei no meu labor pastoral.

P.S. – No dia 31 de dezembro de 2014, a Igreja Batista Betel de Bauru, completou 50 anos, dos quais aproximadamente 40 deles dediquei-me a ela.

 

Edson Quinezi

 

 

 

 

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