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A ética do milagre

Publicado em: 28/05/2015 por CBN-SP

Milagres

O uso publicitário da fé não é nenhuma novidade e nem um fenômeno restrito ao nosso tempo.

No século IV Donato de Casa Negra, um dos  fundadores  de um movimento dissidente da igreja chamado donatista, já possuía um coral que entoava louvores ao seu líder maior. Não muito diferente do que ocorre atualmente onde o marketing pessoal é aceito como ferramenta legítima por muitos para catapultar ministérios e igrejas.

Quais os limites para a propaganda na igreja quando claramente existe um mandamento para propagar o Evangelho a todas as nações? Essa pergunta não é fácil, há quem diga que a publicidade começou com a Igreja Cristã. Evidentemente discordo dessa opinião, desde a invenção da escrita há quem teça loas a alguém ou a um grupo dependendo de seus interesses.

Penso que uma forma adequada de encarar esse dilema está bem exemplificada no episódio de Eliseu e Naamã (I Rs 5). O texto bíblico ocorre em um período tenso nas relações políticas entre Síria e Israel. O comandante sírio hanseniano informado pela sua escrava israelita que haveria esperança para sua enfermidade em Israel se mobiliza em busca da cura. Algumas lições podem ser extraídas do texto:

Primeiro, devemos ter cuidado com a glamourização da cura. O homem gosta do espetáculo e da pirotecnia, bilhões são gastos na indústria do entretenimento. A multidão, o frenesi, o suspense mexem com o sentimento humano. Eliseu dispensou toda e qualquer forma de atração sendo direto e sucinto para frustração de Naamã. Simplesmente, sem pompa ordenou que o comandante se lavasse sete vezes no barrento Jordão. Eliseu não se impressionou com as patentes do sírio, não utilizou o momento para fazer um espetáculo midiático.

Outro aspecto percebido na passagem, na Bíblia os milagres estão ligados às proposições. Deus não faz milagres com o objetivo apenas de impressionar ou embasbacar alguém. Mesmo que não entendamos existe uma razão em tudo o que Deus faz. A ordem estranha de Eliseu não nos autoriza a utilizarmos expedientes bizarros,  frutos de mentes (ou dementes) criativas(os). Claramente percebe-se que além da cura física, Naamã precisava ser transformado em seu caráter descendo de seu pedestal para conhecer Deus.

Também fica claro que a promoção não é humana, o objetivo do milagre é sempre a glória de Deus. Eliseu não capitalizou em cima da cura. Não quis receber pagamento pois sabia que ele não era o agente e sim Deus. Manifestações de ordem espiritual não podem ser precificadas, de graça recebestes, de graça dai. Nem mesmo Naamã ou seus soldados que usaram de bom senso pedindo que seu chefe mergulhasse no rio podiam receber o mérito pela ação miraculosa.

Por último, todos que mercadejarem os milagres de Deus serão penalizados. A ação de Geazi representa os obreiros que querem realizar a obra de Deus para alcançar ambições e vantagens pessoais. Tais pessoas são condenadas por Jesus nos evangelhos. A lepra física é apenas o reflexo da condição espiritual pecaminosa de quem se utiliza de tais expedientes visando o lucro. Tais obreiros fraudulentos são flagrados em suas mais sórdidas ambições e serão razão de escárnio de todos que os contemplarem.

A passagem é muita rica, outros princípios poderiam ser explorados, mas os citados são suficientes para perceber que existem limites na manipulação do sagrado. Eliseu da mesma forma que Jesus de Nazaré não usou o milagre para sua própria glória, mas sim a de Deus.

 

Pr. Mauricio Abreu de Carvalho

 

 

 

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